terça-feira, 20 de janeiro de 2009

NAS CIDADES, AS MATAS... OS BOULEVARDS


Numa singela tarde de segunda, três indoutos amigos, sem muito o que fazer e atestando a vagabundagem pessoal do caso reto, resolveram aprender inglês, não da melhor forma possível (talvez para Vygostsky fosse), mas de uma forma bem fenomenológica do tipo ser-estando. Enfim... filosofias baratas a parte, os três resolveram conhecer o tão falado Happy End. Tá, tá, tá, já sei!!! Tem gente a toa, fora dessa cidade, que também lê isso. Já explico: Happy End, segundo um oráculo me informou, é uma mata, daquelas de restinga, que fica no final da Praia de Camburi em Vitória, onde, reza a lenda, algum dia já existiu uma fonte de água mineral, hoje um esgoto a céu aberto do tão fofinho e bonitinho bairro de Jardim Camburi. Enfim, os aventureiros do bairro proibido se encaminharam para a tais trilhas de Oxóssi (deus das matas) para presenciar alguma cena sujo-pederasta-de-baixo-calão e, lógico, se divertirem às custas das fantasias sexuais alheias. Carro parado. Dúvidas. O mais ousado foi justamente, dos três amigos, o que viera do interior. Saltou do carro e prontamente se colocou a saudar o mar em alta voz - para que os banhistas, quiosqueiros e passantes não pensassem que seu objetivo ali era o de adentrar à selva. Lógico que eles pensaram ao contrário... mas se importaram? Nenhum pouco. Quase como três crianças matreiras e aventureiras, daquelas que roubam doce da avó, seguiram pela areia da praia, atravessaram a vala com a linda cor verde-esmeralda. Desalongamento (delícia, inventar palavras) de história, acabaram encontrando na tal virgem(?) mata um número tão grande de amigos que o gueto na verdade se transformou num piquenique no parque. Abaixo aos guetos! Revolução dos bichos, now! Saiam das matas... coisa cafona da década de 70. Afinal, banheiros de Boulevard, com a presença da guarda municipal dentro, têm sido, aparentemente mais urbano e pós-moderno. Ainda assim não concordo, mas fazer o quê? Há uma descontrolada necessidade entre os homens (sexo masculino), que perpassa o "fazer xixi".

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

ERA UMA VEZ... UMA CIDADE TÃO, TÃO DISTANTE DE SER UM PRESÉPIO


Um pequeno vilarejo. Incomum. Bucólico. Para geógrafos alucinados da UFES* uma montanha que afundou. Para os artistas alucinógenos da UFES uma montanha que ainda está afundando. Para o cineasta Babe, Faketown. Para os políticos pagos, ou mesmos os grátiz (desculpe-me a confusão na ortografia), um poço de dinheiro. Enfim, uma Cidade Presépio. Eis então a que lhe deve a alcunha:


Certa virgem, de um lugarejo chamado Ortiz, bem novinha, uma ninfeta pura e gentil, tinha costume de ferver água para se banhar. O que restava do banho jogava pela janela, na ladeira de sua casa, onde anos mais tarde resolveram construir uma escada. Ao passar pela tal ladeira e tomar um banho fervendo, um santo espirituoso padre - que dizem andava carregado em liteira por selvagens nativos, mas os fazia jurar que ele andava a passos largos - amaldiçoou a virgem prometendo-lhe uma barrigada de filho. Incompreendida pelos pais, a ditosa jovem, foi agraciada com o velho chamado Penedo que assumiu o filho e casou-se com a Maria de Ortiz. Não podendo mais ficar no vilarejo, os noivos, partiram do sertão baiano para a linda capital Guanabara.

Com a viagem muito longa e cansativa, Mariazinha (assim o velho Penedo a chamava) acabou parindo numa ilha que ficava no meio do caminho. O filho, muito sadio, não saciava-se apenas com o leite da jovem sendo assim alimentado com tudo que restava de milho no paiol. Logo ficou conhecido como Capix Aba (nome dado em homenagem a um nativo que ajudou no parto). Preocupados em seguir viagem com uma criança tão nova, resolveram se instalar por ali. Não sabia a menina que, de acordo com a profecia dos povos que ali viviam, nasceria naquelas mesmas circunstâncias, naquele mesmo local, um príncipe. Lógico que não era o pequeno Capix Aba, mas por um erro pajé-médico, o príncipe verdadeiro tinha morrido no parto pela longa espera da mãe na fila do pajé-cias-medical-center. Logo, para que essa história de profecia não-cumprida não transformasse a tribo numa multidão enfurecida de marxistas-heréticos, ajeitou-se a vaga para Capix Aba.

A notícia espalhou-se por todo mundo, então grandes sábios e reis do oriente (naquela época, a América do norte e o Reino Unido pertenciam ao oriente) vieram com presentes para o bebê que vivia a se pocar de rir.

O primeiro rei-multinacional-mago trouxe ao pequeno uma substância perfumada, muito melhor que a mirra, ela se chamava celulose. Ta certo que a quantidade foi exagerada, mas Capix Aba adorava aquele cheiro, que só era lançado no ar da ilha bem a noitinha para não incomodar ninguém. Dava um pouquinho de rinite e problemas respiratórios em Capix Aba, mas o fofinho continuava a se pocar de rir. O segundo trouxe ao infante, em lugar do tão ofuscante ouro, um pozinho escuro e brilhante que, atualmente, chamam minério de ferro. O bebê não compreendia ainda para que servia, mas adorava, pois o mesmo vinha com um trenzinho elétrico gigante para ele brincar e com barquinhos que levavam o pozinho para bem longe, para que o pequeno se divertisse ao vê-lo longe no mar. O terceiro trouxe para o príncipe algumas maquininhas que furavam todo o mar ao redor da ilha fazendo jorrar, mais inflamável que o incenso, um liquido preto e viscoso conhecido petróleo, que também ia nos barquinhos.

Assim, com muitos burros, bestas, vacas e outros animais olhando, sem nada dizer - lógico, animais não falam - o príncipe contentou-se com aqueles presentes. Sua mãe foi homenageada também, com mais uma escadaria e seu pai ficou só fazendo cara de paisagem, olhando para toda a cena. O episódio não foi exatamente conhecido como Natal, mas CPI dos Grandes Embustes. Porém, o nome Presépio foi concedido a ilhota. Isso sim, dignificou todos os descendentes de Capix Aba. Por falar em seus descendentes, reza a lenda que todos agora preferem ser chamados de paulistas ou cariocas, mesmo porque, ao fazer dezesseis anos, Capix Aba foi embora da ilhota, deixou um bilhete


"o último a sair, apague a luz do aeroporto",


Porém percebeu que o mesmo ia demorar muitos anos em ser construído, se fosse construído. Então apagou a palavra aeroporto e no lugar colocou metrô, daí percebeu que esse também não aconteceria, então rabiscou e escreveu " o último a sair, apague a luz da rodovia do contorno", apagou de novo, substituiu por "apague a luz do novo calçadão de Camburi", apagou... "apague a luz da ponte da passagem", daí percebeu que a mesma não ia sair, então rabiscou... rabiscou... rabiscou... rabiscou... desistiu. Amassou o papel, jogou no lixo e pensou consigo mesmo "o último a sair que se foda..."

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

SEM SEXO VIRTUAL EXISTE A CIDADE?

Bom, sem a cidade não existiriam muitas coisas. Na minha infantilidade pensei que o homem-aranha não existiria sem a metrópole. Nem imagino um homem-aranha no deserto, sem ter onde se pendurar ou amarrar seus barbantes. Acho que também Lula não existiria. Onde já se viu fazer greve no meio da mata, tipo, "melhores salários para as zebras!" (Deus me livre, clamar por melhores salários para os macacos)"? Assim, com a cidade, acho que nasceram as vitaminas de abacate no liquidificador, os códigos de barras nos sabões de coco, até onde se amarrava cavalo a cidade transformou em estacionamento rotativo, lógico, com o preço corrigido e pagamento surrupiado por flanelinhas mafiosos. Com a cidade nasceu a esmola, antes não precisávamos pedir, arrancávamos comida do pé - não tão simples, tem a tal história do mal que fazia a manga com leite -, soprávamos bolinhas de sabão, mas a cidade as transformou em redomas de classes sociais (pertenço a D e sou literalmente agreste). Ai, minha vizinha Domingas indo à feira. Hoje seu neto pede as compras pela internet. Nem sei ao certo o significado da palavra cidade, Cida de Vitória? C idade acima dos trinta. De zero a dez anos A, de dez a vinte anos B, de vinte a trinta anos C. Nossa, quanta explicação! Mas a "explicação" veio da cidade. Antes o ser humano dava satisfações, hoje explica situações. Depois de ficar horas na madrugada pensando nessas besteiras, achei uma coisa que foi criada pela cidade e que com certeza será o fim dela. Orgasmos binários, mouses punheteiros e memórias ponto G, acabarão com a proliferação do asqueroso ser humano. Ainda bem que esses sujeitinhos serão em pouco tempo exterminados. Não ficamos mais de mal, deletamos. Não mandamos carta anônima, enviamos e-mails de uma conta fake. Não abraçamos no natal, mandamos cartão virtual. Acho até que Cristo voltará aos crentes por meio de spams. Enfim, a troca de fluídos, substituída pelos "ohhhh fica nua na web cam pra mim" dizimará a humanidade, assim, essa cidade que amo, esses mármores que me rodeiam não mais existirão, consequência do não-toque humano, eliminado pela virtualidade do sexo. Já viram né, só to aqui digitando por que não há ninguém para dormir comigo.

ENQUANTO A CIDADE IRRITA JOÃO

Tudo bem, já faz alguns meses que ando de carro, mas quem aguenta transporte coletivo? Já embarquei nos de todas as cores. Uma porta, duas portas, três portas... meia roda. Enfim, na famosa cidade onde vivo existe uma linha que parece partir do polo norte e ter como ponto final o terraço de um galinheiro no Himalaia. Dia desses - antes da minha ascensão social de pobre para menos pobre, quando adquiri um carro popular que, pelo preço do combustível, me fez descobrir que na verdade estou na linha da miséria - esperei por horas o tal 121. Aos desinformados ou aventureiros não-nativos da tão famosa cidade, o mesmo faz a linha Jardim Camburi x Rodoviária. Bom, lá chegou o verde-cinza-não-sei-que-cor com sua plaquinha amarela exibindo o 666, ops, o 121. Já irritado com demora entrei e, inconformado, deparei-me com a mesma cena de meses. Todas as janelas fechadas, numa manhã bem típica de Vitória, um sol lindo e um calor que arderia até as cinco da tarde... e eram sete da manhã. Todas as pseudo-madames com casacos de frio, óculos escuros e algumas surtadas até de cachecol. Meio de saco cheio olhei para a mais ridícula das madames e perguntei, num tom em que os avizinhados pudessem ouvir "nossa, deve tá frio lá em Moscow, né?" Aos poucos, nós foram desatados, janelas abertas, cobrador sorridente... algumas conversas iniciadas - mesmo que o assunto dessas fosse "eu", rotulado com frases do tipo "nossa, tem cada louco nessa cidade" - e a vida, na pacata cidade presépio pareceu menos hipócrita, menos calorenta, menos chata. Como diria minha amiga Elisa Lucinda, o que seria da vida dos outros se eu não me metesse nela.