segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

UMA CIDADE CHAMADA CHAMISTRICK


Tem pessoas de quem você não espera nada. Eu, talvez, seja uma dessas. Outro dia um desvio de padrão - até parece que isso não é comum na minha vida - acabei não querendo mais conversar com um colega recém-converso. Ele disse firmemente "mesmo que não acredite em mim, eu vou insistir em ser seu amigo". Audacioso, mas e eu? Ai, ai, sou teimoso também como uma mula. Tentei esquivar-me, mesmo sabendo o quanto gostava da sua conversa, do seu caráter e de como ele se comportava. Enfim, o charmoso e misterioso Patrick, cercou-me de todas as maneiras. Simpático e educado, sempre. Comecei então a perceber que na maioria das vezes, não damos chances das pessoas serem simpáticas e solícitas. Capixaba já tem fama - e assim o faz por merecer - de ser mau humorado, fechado e outras friezas mais. Ele derrubou uma muralha, se bem que nossa faixa de Gaza era bem menos política e suja e com certeza mais religiosa (no sentido de que tudo que é sofrido é mais gostoso). Chamistrick, a cidade onde há charmosos e misteriosos Patricks, funciona com uma pitada de paciência, tolerância e acima de tudo "abandono do orgulho".

domingo, 28 de dezembro de 2008

A CIDADE, DIEGO, AUGUSTO, MARLEY E EU


Há uns vinte anos tive um cachorro chamado Romeu, um gato com problemas mentais sérios, uma mini-tartaruga meio-quase-clandestina e cinco peixes de nomes meio esquisitos. Romeu foi roubado, por descuido meu. Chorei. O gato, já viram, ninguém tem um gato, o gato é que tem alguém e assim como eles aparecem do nada, também vão embora sem deixar aviso. A tartaruga, coitada, tive que política-corretamente entregar para o IBAMA. Os peixes, ah os peixes: Jó, Malhadinho, Caraminhola, Sansão e Dalila! Ai que coisa chata dar comida para peixe... partiram dessa para melhor. Descobri de fato que eu nunca tive paciência para bicho. A regra, o cuidado, a não-resposta para minhas indagações, o não serem diretos, seu fazer rodeios e a exigência da minha atenção me fizeram um pouco frio quanto aos de "estimação". Dressa, minha amiga há muitos anos, também não deve ser muito chegada não, até aqueles bichos de filmes, fofinhos, ela odeia. Sempre diz: "odeio filme com bichos que falam, japoneses que voam e Tom Cruise com a mesma cara de fuinha de sempre." Confesso que sobre a cara de fuinha do Tom Cruise eu nem tinha percebido. Bom, por falar em bichos e filmes, talvez eu tenha chegado no assunto que me perseguiu no dia de hoje. Fui com os mais novos amigos (não os nominados masculinos do título desta postagem) ao cinema e assistimos Marley e Eu. Marley era um bicho! Um cachorro, para ser mais exato. Muitas lágrimas, muito choro sobre o comovente roteiro de um amante de animais. Mas me surpreendi ao fim do filme. As últimas frases contemplaram um animal que, na verdade, é um ser surpreendente, que ama incondicionalmente quem é pobre, rico, ruim, bom, com defeitos, sem defeitos, gordo, magro, numa "incondicionabilidade" (adoro inventar palavras) que nenhum ser humano é capaz de se submeter. Chorei também, confesso, não pela palavra "EX", edionda, que algum idiota, como eu, deve ter inventado, mas por entender que, certamente, eu deveria ter um animal, cuidar bem dele, com ele aprender o que é amar e não desperdiçar meu tempo com os não-animais, racionais(?), frios e muitas vezes covardes. Vamos ter um bichinho de estimação, afinal, para uns o Ser Supremo deu olhos verdes e um corpinho maneiro, para outros (talvez os Marleys da vida) ele concedeu um coração.

sábado, 27 de dezembro de 2008

OS PREDADORES E A CIDADE

Antes garras e dentes fortes. Hoje mouse e teclado. A versão moderna dos predadores tem tornado a satisfação mais farta e rápida. Imagine um tigre mirando a vítima, correndo e suas artérias pulsando num cansaço descomunal, pulando sobre o indefeso desavisado e na hora H, a presa escapa. Nasceu uma geração de predadores internautas que, na cidade, fazem um número enorme de vítimas. Seios fartos, pernas grossas: trinta quilos acima do peso. Malhado e robusto: bomba e injeções de cavalo. Porém, na pior da hipóteses, a geração heterossexual tem uma mutação lenta e não foi tão reelaborada depois dos surgimento da internet. Não podemos falar isso da geração homossexual: uma nova geração mutante de predadores que são rápidos, mortais e certeiros. Para não nos alongarmos, hoje mesmo, um amigo foi mandado passear pelo seu parceiro que o conheceu pela internet há algumas semanas. O tal parceiro, já tinha uma lista de contatos e já está agendado com a próxima vítima. Alguns dizem que os predadores entre 17 e 20, têm preferido os mais velhos, acima de 30. Carro, presentes, dinheiro, estabilidade, ingressos para shows e boates. Os de 20 a 30 preferem os descartáveis, sabe, os "eu te amo essa semana". Os acima dos 30 trabalham, procuram os mais novos e se deprimem nos seus quartos assistindo Uglly Betty por serem rejeitados. Fato é que, com uma oferta tão grande, a qualidade tem caído, e muito. Amigas reclamam, amigos reclamam. Sexo casual tem sido uma onda perigosa e grotesca. O romantismo transformou-se em Colcci, o galanteio em Burger King, as flores em pacotes de camisinhas (com o detalhe do KY). À baixo as bixas capixabas, as sapas desgostosas, aos marombeiros do triângulo... aos predadores internautas, as mentiras sinceras, pois quem se interessava por elas já morreu. À baixo a mutação quer fará meninos de 12 assediarem em 'praças de namorados' e portas de boates. Sejamos apenas pessoas capixabas, que ao retirarmos o "capixaba", continuemos pessoas com sentimentos, coração, respeito com o outro e acima de tudo CARÁTER.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A ETIQUETA E A CIDADE

Hoje, ao almoçar com uma linda senhora de 66 anos, pouco instruída, mas muito vivida, filha de paneleira de goiabeiras*, nascida do fortíssimo sangue italiano com a pureza de alma indígena, fiquei observando-a sentada no sofá com o prato na mão. De certo milhões de links impostos à minha memória me fizeram rever cenas do passado. Ela ergueu os olhos num ar de simplicidade e com uma fala impregnada de sabedoria disse "não entendo por que devemos comer frango com garfo e faca, mais da metade da carne fica nos ossos e esses vão para o lixo. Tem tantas pessoas passando necessidade! Por que jogar comida fora?". Etiqueta de brasileiro sempre foi a do não desperdício, a do sobreviver acima de tudo. Comida para nós sempre foi essência de vida. Nada de meditações, de fast-foods, de mac-troços felizes. De imediato, peguei uma coxa de frango com a mão e pus-me a expor o osso. Horas, coisas por fazer, jantar com amigos em restaurante japonês. Uma linda senhora de pouco mais de 50, doutora, amiga, nascida do fortíssimo sangue italiano com o apuradíssimo paladar português lutava com dois pauzinhos e uma fatia de peixe cru (que escorregava por dentre os mesmos). Observei sua desistência e a comida que seria levada de volta pelo garçom. Viajei nas distâncias culturais, etárias, educacionais, dentre outras, concentrei-me no discurso do almoço e decepcionei-me com o não-discurso do jantar. A etiqueta mata. Não a fome, mas a vontade de saciar-se. O peixe iria embora, ninguém comeria, conversaríamos sobre exposições e "vernissages", porém nos manteríamos limpos, corretos, educados... e com fome.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

JOÃO E A CIDADE

Borderline? Não seria esse o termo. Marginal? Talvez. Subversivo? Ai, ai, nem que eu fosse um Nelson Rodrigues. Fato é que cansado da cidade que "fakeia" tudo, decidi... numa noite de natal, à fronha madrigal, escrever um blog. De cara, já digo, só lerão bobagens... mas quem quer ler intelectualidades senão os meus amigos mestres e doutores? Fodam-se os diplomas. Minha língua nunca foi presa a nenhum deles. Já vejo minha amiga jornalista dos 'Serões da Província' rindo pelo fato de, depois de sete anos freqüentando graduação e mestrado, eu escrever com tantos erros que assassinam nossa língua mater (que muda tanto que já nem sei se é mãe, tia ou um parente distante) e tantas futilidades... mas enfim, Deus salve a futilidade, sem ela a Hebe não seria rica e a burra da Gimenez muito menos, se bem que, no caso da segunda, uma boa envergadura pernal talvez tenha superado a boca que "derrama estultícia". Vivo há 34 anos nessa cidade, só me ausentando dela por dois anos, logo, tenho direito adquirido de falar bem ou mal dela e leia quem quiser. Assim... morrendo de sono, encerro minha cretinice de hoje desejando um feliz natal a quem possa interessar, afirmando com muita certeza: Papai Noel não existe (segundo o caça-pedófilos Sr. Malta), mas tenho um vizinho que jura que já viu o gordo ifame de gorro vermelho... porém, essa história se juntará as milhões de bobagens que o visitantes aqui lerão nas próximas eternidades...