sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

ERA UMA VEZ... UMA CIDADE TÃO, TÃO DISTANTE DE SER UM PRESÉPIO


Um pequeno vilarejo. Incomum. Bucólico. Para geógrafos alucinados da UFES* uma montanha que afundou. Para os artistas alucinógenos da UFES uma montanha que ainda está afundando. Para o cineasta Babe, Faketown. Para os políticos pagos, ou mesmos os grátiz (desculpe-me a confusão na ortografia), um poço de dinheiro. Enfim, uma Cidade Presépio. Eis então a que lhe deve a alcunha:


Certa virgem, de um lugarejo chamado Ortiz, bem novinha, uma ninfeta pura e gentil, tinha costume de ferver água para se banhar. O que restava do banho jogava pela janela, na ladeira de sua casa, onde anos mais tarde resolveram construir uma escada. Ao passar pela tal ladeira e tomar um banho fervendo, um santo espirituoso padre - que dizem andava carregado em liteira por selvagens nativos, mas os fazia jurar que ele andava a passos largos - amaldiçoou a virgem prometendo-lhe uma barrigada de filho. Incompreendida pelos pais, a ditosa jovem, foi agraciada com o velho chamado Penedo que assumiu o filho e casou-se com a Maria de Ortiz. Não podendo mais ficar no vilarejo, os noivos, partiram do sertão baiano para a linda capital Guanabara.

Com a viagem muito longa e cansativa, Mariazinha (assim o velho Penedo a chamava) acabou parindo numa ilha que ficava no meio do caminho. O filho, muito sadio, não saciava-se apenas com o leite da jovem sendo assim alimentado com tudo que restava de milho no paiol. Logo ficou conhecido como Capix Aba (nome dado em homenagem a um nativo que ajudou no parto). Preocupados em seguir viagem com uma criança tão nova, resolveram se instalar por ali. Não sabia a menina que, de acordo com a profecia dos povos que ali viviam, nasceria naquelas mesmas circunstâncias, naquele mesmo local, um príncipe. Lógico que não era o pequeno Capix Aba, mas por um erro pajé-médico, o príncipe verdadeiro tinha morrido no parto pela longa espera da mãe na fila do pajé-cias-medical-center. Logo, para que essa história de profecia não-cumprida não transformasse a tribo numa multidão enfurecida de marxistas-heréticos, ajeitou-se a vaga para Capix Aba.

A notícia espalhou-se por todo mundo, então grandes sábios e reis do oriente (naquela época, a América do norte e o Reino Unido pertenciam ao oriente) vieram com presentes para o bebê que vivia a se pocar de rir.

O primeiro rei-multinacional-mago trouxe ao pequeno uma substância perfumada, muito melhor que a mirra, ela se chamava celulose. Ta certo que a quantidade foi exagerada, mas Capix Aba adorava aquele cheiro, que só era lançado no ar da ilha bem a noitinha para não incomodar ninguém. Dava um pouquinho de rinite e problemas respiratórios em Capix Aba, mas o fofinho continuava a se pocar de rir. O segundo trouxe ao infante, em lugar do tão ofuscante ouro, um pozinho escuro e brilhante que, atualmente, chamam minério de ferro. O bebê não compreendia ainda para que servia, mas adorava, pois o mesmo vinha com um trenzinho elétrico gigante para ele brincar e com barquinhos que levavam o pozinho para bem longe, para que o pequeno se divertisse ao vê-lo longe no mar. O terceiro trouxe para o príncipe algumas maquininhas que furavam todo o mar ao redor da ilha fazendo jorrar, mais inflamável que o incenso, um liquido preto e viscoso conhecido petróleo, que também ia nos barquinhos.

Assim, com muitos burros, bestas, vacas e outros animais olhando, sem nada dizer - lógico, animais não falam - o príncipe contentou-se com aqueles presentes. Sua mãe foi homenageada também, com mais uma escadaria e seu pai ficou só fazendo cara de paisagem, olhando para toda a cena. O episódio não foi exatamente conhecido como Natal, mas CPI dos Grandes Embustes. Porém, o nome Presépio foi concedido a ilhota. Isso sim, dignificou todos os descendentes de Capix Aba. Por falar em seus descendentes, reza a lenda que todos agora preferem ser chamados de paulistas ou cariocas, mesmo porque, ao fazer dezesseis anos, Capix Aba foi embora da ilhota, deixou um bilhete


"o último a sair, apague a luz do aeroporto",


Porém percebeu que o mesmo ia demorar muitos anos em ser construído, se fosse construído. Então apagou a palavra aeroporto e no lugar colocou metrô, daí percebeu que esse também não aconteceria, então rabiscou e escreveu " o último a sair, apague a luz da rodovia do contorno", apagou de novo, substituiu por "apague a luz do novo calçadão de Camburi", apagou... "apague a luz da ponte da passagem", daí percebeu que a mesma não ia sair, então rabiscou... rabiscou... rabiscou... rabiscou... desistiu. Amassou o papel, jogou no lixo e pensou consigo mesmo "o último a sair que se foda..."

6 comentários:

  1. Muito criativo!
    é incrível ver que nos dias atuais, com tantos investimentos no estado, em função do mercado portuário e da extração de petróleo, exista tanto descaso com necessidades tão bácicas da população, que, com o crescente empobrescimento, coloca a capilat como uma das cidades mais sujas e violentas do país, senão do mundo.

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  2. tá favoritado!
    depois eu leio tudo e comento.

    BJU*

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  3. E a tendência é o pobre Capix Aba percerber que esse bilhete se derreteu no caldeirão da bruxa malvada que vendeu sua alma pro malígno indiano! Rsrsrsrs!
    Continue com os textos! Parabéns pela pessoa que é; que apesar de ter acabado de conhecer, me surpreendeu em todos os sentidos!

    Abração

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  4. Não tenho muito a comentar do texto amigo, só dizer que amei e ri muito com o enredo rsrs!!

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  5. adorei a "cara de paisagem" do Penedo... :D

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